"Depois foi através das ruas rodeadas de palácios, [...] Por toda a parte se viam estátuas. Havia estátuas de mármore claro e estátuas de bronze. Outras eram de barro pintado. E a beleza de Florença espantou o Cavaleiro [...]".
Sophia de Mello Breyner Andresen, O Cavaleiro da Dinamarca, 1964
A escultura é um espaço sonhado, com ideias e valores atribuídos, modelado, esculpido, perceptível em formas proporcionalmente belas e com harmonia.
A herança da arte grega e romana anda por aqui outra vez, via caminhos de Florença, num percurso cuja matriz civilizacional é a do espaço onde vivemos e onde podemos na esfera das nossas atribuições de profissão, de cidadania, de pessoa, desejá-la, tê-la, usá-la, explicá-la, levá-la ainda mais longe, é a herança humana no seu melhor que no-lo exige.
A organização dos espaços públicos e privados carece da arte da escultura, seja como um marco visual na paisagem, seja como uma referência de locomoção, seja como um símbolo... no fundo se não se organizar o espaço para as funções, para as vivências dos tempos, ficamos vazios de referências. A ausência de referências, mormente as que estão na origem dos grandes paradigmas de organização do espaço urbano, conduz-nos socialmente ao desnorteamento, à perda dos sentidos para a vida, incluindo no limite a violência urbana gratuita... sabemos isto por dedução, por indução, por analogia, por acto de inteligência, por simples experiência própria quotidiana.
A existência de espaço organizado implica assim a estruturação do universo de valores em que nos movimentamos, dando significado às vivências e aos tempos da vida. Melhor dito, ficamos todos espiritualmente mais ricos se o espaço for estruturado em torno de referentes. Os que aqui se abordam hoje já levam mais de dois mil anos de idade, aqui para os nossos lados, nos nossos espaços. I.e., já são símbolos mais do que repristinados e resistem, resistem...
Ah, já agora, os caminhos da escultura são vastos e não de interpretação única, não se restringem à modelação clássica ou romântica das formas humanas, espraiam-se por outras águas e com outros paradigmas, bem, mas isso são espaços para outros tempos. Voltarei...
Conclusão
1 - Parece não nos faltarem boas razões para boas práticas - seja sonhando/pensando, seja dirigindo/organizando, seja programando, seja esculpindo, seja ensinando e transmitindo os saberes da (escultura) arte, necessária à vida.
2 - A arte e o belo enquanto elementos de uma praxis harmoniosamente sonhada, desejada, procurada, organizada, conduzem-nos a valores e a emoções estéticas, que dão sentido(s) à vida.
PS - Palavras chave encontradas no texto de Sophia de Mello Breyner citado - ruas; palácios; estátuas (3 vezes); mármore; bronze; barro pintado; beleza; Florença.
O texto em questão pertence a um dos livros apresentado no programa de Língua Portuguesa do 7º ano, pág. 33, como um dos possíveis de seleccionar para obra de leitura orientada.
A Florença, voltaria sempre... Às suas ruas e largos... às suas praças... igrejas e catedrais... e sentar-me-ia nas margens do Arno, imaginando-me nos tempos de Da Vinci... e dos palácios imperiais... Uma viagem inesquecível!... Recordá-la aqui é excelente!
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